sábado, 10 de setembro de 2011

Sujeito, verbo de ligação e predicativo.

É como as pontas de um mesmo fio, que ja foram ou poderão ser unidas. Sao os extremos, mais distantes e ao mesmo tempo tao próximos, a alegria e a tristeza, a segurança e a incerteza, o medo e a confiança.É tambem, em meio a tudo isso, pisar em ovos, como diriam os mais velhos. É assim que eu me sinto, é assim que eu percebo o momento que vivo.

Não sao poucas as vezes em que nos submetemos a uma competição. Desde pequenos somos estimulados a montar o quebra cabeça primeiro, a correr mais rapido, a tirar boas notas. Sao as competiçoes o reflexo de varias características intrínsecas ao ser humano, alias, ao ser vivo. Se elas(as competiçoes) nao existissem, inventaríamos. E o vestibular não é exceção. A falta de vagas nas universidades públicas torna "obrigatório" a seleção dos mais aptos. Não só de inteligencia, mas uma competição de adaptação. Quem é mais paciente e mais concentrado, ou seja, nao necessariamente o mais estudioso, mas aquele que soube responder em uma folha de papel, exatamente o que um outro ser humano conceituou como certo. Assim, defini-se um rumo para sua vida. Ou, para pelo menos, um período dela. É como se essa fosse a competição mais complexa e mais simples conceitualmente. Como sao muitas pessoas, sao os mais variados planos de vida, objetivos(ou falta deles), personalidades. E tudo ali é selecionado por aptidoes pre estabelecidas. É quase uma regra:saia do ensino medio entre na faculdade, passando no vestibular. Simples: é uma lista na internet que caso contenha seu nome, comemore, caso contrario, utilize seu plano B. São nomes, sao computadores, sao pessoas, sao numeros e muitas vezes décimos que te separam de outros computadores, pessoas e numeros, ou seja, do laboratório de informática, dos veteranos e das notas do trabalho sobre um livro de 564 paginas para próxima semana sobre o Ensaio de Kant. Umas perguntas que num papel definem a conquista de um sonho ou o fim dele.
Não, nao é tao simples. Cada vestibulando carrega consigo um mundo de outras pessoas que torcem por ele e que trabalharam por ele, para seu bom desempenho. Cada um leva consigo seus medos, suas angústias, e horas de estudos. Em Medicina especificamente, levamos conosco noites mal dormidas, renuncias dos mais variados tipos, pressao (mesmo indireta) de todos os lados e nao apenas o terceiro ano, mas algum(ns) anos de cursinho. E, espero que na maior parte dos casos, levamos um sonho.Uma vocação. O desejo incompreensivel de ajudar o próximo no pior momento da vida,mesmo sabendo de tantas outras noites mal dormidas, da má remuneração, dos plantoes em feriados e festas de final de ano, do estudo neurótico ao longo de muitos anos. Por essas e tantas outras, que uma nota, definida em umas horas da sua vida, não é simples. Envolve momentos de alegria extrema e de crise existencial, de pequenas conquistas e de derrotas que exigem um esforço anormal para levantar rapidamente e continuar acreditando em si mesmo. São os dois extremos de um fio. Que mesmo distantes, formam pontos muito próximos.
Essa competição, paradoxalmente, nao é a seleção de quem buscou ser melhor do que os outros. Mas sim, de quem buscou ser o melhor em si mesmo. De quem fez o seu melhor, e, se ainda assim, não foi o mais "apto", acredito que os planos de Deus são temporalmente diferentes dos nossos.
Nesse sentido, futuros colegas de profissao deixam de ser concorrentes para se tornarem pessoas com uma rotina muito semelhante a sua. Passam a ser amigos. E ao mesmo tempo que o mundo insiste em lembrar que eles disputam uma vaga contigo, a amizade insiste em torcer por ele tambem. Aí está o "pisar em ovos" que citei no inicio do post. Porque voce torce por ele, mas torce por voce tambem. E até aonde o seu incentivo passar a ser hipocrisia? E ate onde suas emoçoes precisam ser contidas para nao intimidar as dele?
Por tudo isso, quem decide apropriar a expressao "vestibulando de medicina" como predicativo da frase "eu sou", assume viver oscilando entre as duas pontas de um mesmo fio: a superação de desafios.




sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Sobre fronteiras II

Então, talvez essas fronteiras que separam povos, etnias, culturas, línguas e países sejam as mais lembradas. As fronteiras geográficas e, muitas vezes, físicas, são talvez o conceito mais substancial do que é realmente uma fronteira. Mas, e aquelas que nao separam algo físico exatamente? Aquelas que nao estao nos mapas, mas no nosso cotidiano? Aquelas que nao separam povos diferentes, mas pessoas que formam o mesmo povo? Ideologias, falsas verdades, pré-conceitos. Aquilo que, por mais que nao cause guerras nucleares, mata as pessoas aos poucos. Machuca, e é capaz de transformar coisas boas em coisas nem tao boas assim. Em outras palavras, seja sexual, racial, social, ou aquele mesmo que vc tem ao conhecer alguem (um pouco) diferente de ti, o preconceito é a criação de fronteiras próprias que, inultimente, separam quem as cria da oportunidade de enriquecer o seu próprio mundo, a partir da experiencia com o outro. Pessoas sao tao diferentes quanto iguais. E, quanto mais isso for usado ao nosso favor, melhor para nós mesmos e para o meio que nos cerca. Se "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é", pq nao compartilhamos o que vivemos cotidianamente? E se ainda assim, somos diferentes, aquilo que nos forma,ou seja, atomos, moleculas, material genético, proteinas e outras substancias,  se distingue em menos de 1% de um individuo pro outro. Nesse sentido, se uma máquina é composta dos mesmos parafusos, nos mesmos encaixes e na mesma sintonia que outra, pq colocá-las em níveis distintos? Sim, eu tambem acho que o ser humano nao é uma máquina. É muito mais. E por isso mesmo é capaz de ser maior do que as linhas, rios, muralhas, placas, muros, cercas, racismos e fobias que nos separam. Basta que antes de fronteiras, haja uma virtude pouco presente, mas bem necessaria: a tolerancia.