terça-feira, 28 de agosto de 2012

Estamos com fome de amor

Uma vez Renato Russo disse com uma sabedoria ímpar: "Digam o que disserem, o mal do século é a solidão". Pretensiosamente digo que assino embaixo sem dúvida alguma. Parem pra notar, os sinais estão batendo em nossa cara todos os dias.

Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e transparentes, danças e poses em closes ginecológicos, chegam sozinhas. E saem sozinhas. Empresários, advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos.

Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos "personal dance", incrível. E não é só sexo não, se fosse, era resolvido fácil, alguém duvida?

Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão "apenas" dormir abraçados, sabe, essas coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega.

Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção. Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a "sentir", só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós.

Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos Orkut, o número que comunidades como: "Quero um amor pra vida toda!", "Eu sou pra casar!" até a desesperançada "Nasci pra ser sozinho!".

Unindo milhares, ou melhor, milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis.

Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade de cara limpa. Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia é feio, démodé, brega.

Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí? Seja ridículo, não seja frustrado, "pague mico", saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta.

Mais (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso a dois.

Quem disse que ser adulto é ser ranzinza? Um ditado tibetano diz que se um problema é grande demais, não pense nele e se ele é pequeno demais, pra quê pensar nele. Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser estabanada; o que realmente não dá é continuarmos achando que viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me aventurar a dizer pra alguém: "vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois, vão querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo, tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida".

Antes idiota que infeliz!

Arnaldo Jabor.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Mais falado

Aí, aconteceu de novo. Aconteceu como se já tivesse mesmo que acontecer e como se fosse mais natural do que é pra cada um deles.
A tal história de comédia romântica, nem tanto comédia tampouco romântica. Ou deveria dizer que a comédia foi só pra disfarçar o romantismo que, de algum jeito, já existia? É, porque quando a gente sente, esquecem-se as regras da física, o racionalismo matemático, as teorias biológicas. Pode ser do nada, pode ter anos. Pode ocupar mais de um lugar no espaço ou pode não ter espaço. Pode dividir o que se quer juntar ou subtrair o que se quer aumentar. Pode involuir pela adaptação ou pode evoluir pelo (des)uso. Pode ser explicável ou pode, em vão, procurar-se a explicação. Pode ser e não ser ao mesmo tempo e todo e qualquer paradoxo antes sem sentido, assume seu destino.
Era só mais uma dessas histórias, em que ela, abre aos poucos o que guardou por tanto tempo. O coração. E ele, recebe, com confiança, aquilo que já tinha entregue a ela em tão pouco tempo. Sem perceber.
Não muda pra quem tá de fora, muda por dentro.
E, pra eles, não interessa se essa é mais uma dessas histórias que o mundo espera só o final. Nem toda história deixa de ser porque acaba e nem todo fim precisa de uma história.
Para eles, pra ele e pra ela, não importa se é uma história. Pode ser uma página do livro de cada um. O que interessa é que não tem como ser de outro jeito. Não se contesta, não se resiste. Se ilude achando que se deixou levar. Mas é só outra ilusão. Eles não tiveram escolha. Falam pouco do que sentem, talvez, não precisasse falar. Não foge dos padrões, e ainda assim, insistem em dizer que não sabem o que é. Talvez ninguém saiba mesmo. Não precisa saber.
Ela foi pra casa.
Ele saiu.
Amanhã, voltam a se falar porque saudade não precisa de tempo.
E não se pula as páginas de um livro. Ou dois.

Aquilo que não é

será que se a gente discutisse mais seria melhor?
será que se eu batesse o pé a gente se entenderia?
por algum acaso, se houvesse um pequeno confronto, a gente saberia o que o outro pensa?
E assim, seriam duas personalidades e não apenas uma. Seriam duas pessoas e não uma ideia abafada.
E assim a gente gastaria energia, o que nao importa tanto quanto os machucados e são eles que me amedrontam. Amedrontam a ponto de recuar, sabe. "Não vale a pena discutir". Será, céus, que não vale mesmo? As grandes ideias sempre entram em conflito para formar uma maior ainda e por que tanta falta de ousadia?
OUSADIA. Deve ser isso. Incomoda os outros, mas não acomoda a si mesmo. E acomodar-se, sim, é um defeito.
Até aonde vale ousar por um argumento, por um orgulho, por um fim ou deixar que fique por isso mesmo, e assim, encolher-se na sua própria personalidade? Até aonde? 
Até aonde vale remoer por dentro o que não é dito por fora?
Até aonde vale pensar nos outros e nao em si mesmo?
E assim, na inconstância daquilo que parece estável a gente segue achando aprender mais do que antes. Na doce ilusão de que a maturidade existe (e de que ela vem com o tempo). Pobre de nós.