domingo, 28 de julho de 2013

"E tenham também a coragem de ser felizes!"

Há pouco mais de um ano, a Jornada Mundial da Juventude já começava a despontar sua preparação em algumas paróquias e causava certa expectativa. Foi se concretizando mesmo com o início dos treinamentos e quando as informações foram chegando, os números eram enormes e por mais que eu imaginasse, a magnitude do evento ainda iria me impressionar.

Em 2013, a jornada ultrapassou os muros da Igreja e passou a ser assunto de outras rodas de conversa. Seria em julho um tal evento de jovens católicos. Não sei até aonde foi o pensamento de cada um, mas sei que só tomaram consciência mesmo quando afetou a rotina de todo o morador da cidade do Rio pelo decreto oficial de feriado. Bom, era um evento importante . Foi possível ver as mudanças em todos os planejamentos, fosse da faculdade ou do trabalho. Ou ainda no transito. As ruas seriam fechadas. Era um evento grande. Eu, ainda que soubesse antes sobre os possíveis feriados, fui me surpreendendo a cada alteração de planejamento em torno de um algo que já me engajava há um tempo. Em torno de um evento religioso em tempos de ceticismo.

Dia 23 a 28 de julho, então, chegou. Tudo chega e não foi diferente com o que esperamos por um ano e meio. Coloquei na bolsa azul meu colete de socorrista, minha garrafa de água, dinheiro, documento, celular e alguns chaveiros para “cambiar”. Vesti a camisa amarela e a credencial de voluntário. E levei no coração a vontade de ver o que aconteceria. A minha expectativa era ver pessoas, ajudar quem passava mal e o Papa ficaria pra a próxima Jornada, ve-lo seria muito difícil(esqueci que os planos de Deus são sempre melhores que os nossos). Apesar da longa espera, aprendi que quanto maior essa tal de expectativa, maior a probabilidade de decepção. Ultimamente, ando mantendo-a no limite mínimo.

 

E aí, entre tantas mudanças, entre tantas falhas, entre tantas situações com valores nem um pouco cristãos, ainda assim, não era possível desanimar. Não era possível, pelo menos, não se impressionar com a quantidade de pessoas de todo mundo no mesmo lugar, falando diferentes línguas, mas se entendendo pela forma mundial de manifestação do bem: o sorriso. Olhando assim, por fora, eu posso até parecer uma pessoa com muita fé, mas a verdade, é que esse negócio de fé precisa de uma recarga constante e, no meu caso, eu diria que a minha é tão pequena que eu preciso sempre de algo para mante-la viva. Todos precisamos. E o que eu presenciei durante todos esses dias foi como reacender o que quase se apagava. Foram ações concretas de humanidade por todos os lados: vi uma multidão em silencio, rezando junta a um mesmo Deus que morreu por nós por amor e vi essa mesma multidão pulando na mesma música, mostrando que alegria vem de dentro; vi um grupo de jovens chilenos cantando juntos no centro do Rio e deixando todos nós que passávamos, pasmos com a animação e testemunho; vi um homem com um sorriso permanente até de boca fechada que incansavelmente acenava para muitos que esperaram por horas apenas sua presença cheia de graças; vi o mesmo homem de novo, demonstrando uma simplicidade absurda pelo olhar ainda que ele seja um chefe de estado; vi esse Papa Francisco trazendo a Cristo, como ele mesmo disse no discurso de chegada, pessoalmente. Ele nos trouxe o Cristo que está com ele de maneira muita viva e transparente, basta parar para sentir o que acontece quando ele passa. Vi gente de todos os lugares do mundo conversando como se tivessem se reencontrado. Vi soldados educados e prestativos a manter a organização sem tirar o brilho de tal acontecimento. Vi argentinos e brasileiros juntos, africanos e europeus. Vi tantas bandeiras balançando que nem sabia o nome de todos os países que representavam. Falei em espanhol, inglês e até algumas palavras em polonês, descobri que não sei falar quase nada de nada, mas que quando a gente quer ajudar, a gente se entende. Vi milhares andando por todos os cantos e, ainda que cansados, cantavam certos de que não havia lugar melhor para estar. Eu andei, eu dancei, eu cantei, rezei, trabalhei e me emocionei muito com tudo o que acontecia. Eu vivi aquilo ali de algumas maneiras e, pelo meu próprio ângulo, posso dizer que há vários erros, mas nenhum deles conseguiu sequer atingir o grande objetivo da Jornada: a vivência da fé por jovens discípulos que vieram do mundo inteiro e que, agora, voltam como missionários. Uma boa notícia não deve ficar escondida, ela deve ser anunciada a todas as nações. E o Papa Francisco nos trouxe uma boa notícia: “Jesus Cristo bota fé nos jovens...Ide sem medo para servir....Misturem amor, fé e esperança, tudo junto, na vida de vocês.....E tenham também coragem de ser felizes!”

Do mesmo jeito que a Igreja deve ser reformada e acompanhar as mudanças do mundo para que haja mais humanidade, respeito, dignidade e igualdade, nós que fazemos parte dela precisamos continuar a Jornada nos nossos corações e, consequentemente, nas nossas casas, cidades e, por fim, países. O clima é de despedida, mas o pedido é de continuidade. Começou agora e é a parte mais difícil, porque ser cristão em 3 milhoes de cristãos é como ser gota no meio do mar. E o Papa Chico nos pede para “irmos contra a correnteza sem medo”, só porque o mundo anda muito de cabeça pra baixo. Só porque “nenhum cristão deveria dormir bem até que uma única criança passe fome no mundo”, só porque seguir a Cristo vai muito além da doação no fim do mês. Abrange o encontro com todas as religiões e a causa política de cada lugar.  Antes de sermos católicos, precisamos ser gente. Precisamos olhar o outro como gente seja lá qual for sua religião e, só assim, atingiremos corações. Um inesquecível exemplo já deixou os ares cariocas, mas vai permanecer presente na nossa memória assim como a intensidade desses últimos dias que vivemos.

Por fim, eu diria que a saudade já é grande e dolorida porque viveria assim todos os dias se pudesse e, agora, “acabou-se”. Só quem teve tal experiência, entende que, acima de qualquer polemica e dilema, o nosso maior ponto de encontro é o amor gigantesco de Deus por cada um de nós. E esse não tem como deixar. É por isso, que é bom coloca-Lo em todos os dias da nossa vida. Ainda que a rotina possa nos afastar, que a Jornada tenha sido a vivencia viva de que não estamos sozinho e de que vale muito a pena ser feliz de maneira plena.
 E, claro, POLSKAAA, espere por nós!


 

3 comentários:

  1. Uau...lindo texto
    não sou católico e certamente não sou uma pessoa de fé inquestionável, porém, mesmo não tendo participado desta JMJ, com certo arrependimento, apenas tendo visto o Papa Chico pela TV e a grande quantidade de jovens que fez parte desta jornada em prol da promoção da fé, fé em sua vertente mais simples, fé desvinculada necessariamente de qualquer religião, me faz ter vontade de ir até a Polônia em 2016 com tú.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu não sei se te conheço, mas ler tal comentário dá uma alegria bastante grande, porque mostra que a JMJ atingiu de maneira positiva alguns não católicos, mostrando que fé não tem fronteiras. E Deus ama a todos sem distinção. Basta parar pra perceber tudo isso.

      Excluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir