sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Sem expectativas, com amor.

Dias incríveis.
Dias incríveis são dias em que, quando você acordou, não esperavava muito deles.
São dias repletos de momentos e com expectativas nulas.
Você pode ter até um leve pressentimento, algo como um segredo. Você imagina que pode ser bom, mas não sabe muito mais que isso.

Enquanto estava no ônibus a caminho do meu dia, pensei em como ninguém ali perto de mim imaginava que aquele dia pra mim seria inesquecível. Eu sabia que seria. Só não tinha certeza se seria bom ou ruim.
O medo e a expectativa andam bem próximos. Você tem medo e gera expectativas. Você tem expectativas e dá medo, afinal, podemos não atingi-las por falha nossa mesmo.

Algo me dizia que estava na hora. Que já estava passando da hora.
Já fazia um ano em busca. Um ano me preparando e almejando entrar no Lar, colocar o nariz vermelho e deixa acontecer. Engraçado que sempre que a gente assume algo que muito quer, acontece outro que a gente nao quer. Parece provação só pra termos a oportunidade de mostrar que não vamos desistir. Eu fiquei gripada na mesma semana que assumi ir ao Lar. Muito gripada e pensei em desistir.
Melhorei, não era meu 100% mas não queria dar um passo pra trás. Já tinha dado muitos pra chegar ali, queria ir até o fim.
Sexta, 2 de outubro de 2015. Minha primeira visita como terceira palhaça do Gema da Alegria no Lar Maria de Lourdes.
Sabe a tal da expectativa?
Então,nem eu. Não a cultivei.
Era muito, era grande demais pra mim, eu não podia cultivar medos nem expectativas. Por que? Porque é o maior erro de um palhaço. Não viver o presente. E eu resolvi viver o presente antes mesmo de chegar. Resolvi só pensar no ali. Enquanto estava no onibus, só pensava no onibus. Enquanto estava na rua, só na rua. Enquanto entrava no Lar, só na entrada. Enquanto me arrumava, só em me arrumar...E assim, cadê momentinho foi passando naturalmente. Sem medos. Sem programações. Eu não deveria te-las. Eu só deveria ser. Meus portos-seguros chegaram, os palhaços de profissão e de vida. E eu mantive a calma. Sem pensar. Só vendo-os se arrumarem. Vendo que eu entraria com eles.... Era uma estréia. Uma estréia no palco mais lindo do mundo com quem eu mais admiro. Não era pra ficar nervosa? Era. Mas se eu ficasse, demoraria mais pra ser o que eu devia ser. Eu mesma. Eu já tava gripada, cansada e não era o meu dia mais "preparada", então se eu juntasse nervosismo, com certeza, seria muito mais difícil. E o palhaço só é. Só. Quanto mais pensa em ser, menos ele consegue.
Por tudo isso, não podia pensar que era o grande dia e o grande momento. Mantive-me concentrada na pêra que eu tava mastigando. E assim, tudo ficaria bem.

Prontos? Não. A foto da sua estréia! Seeelfie.
E agora, prontos? Não! E o abraço?
Senti, ali, que estava pronta. Dentro de um abraço apertado das pessoas que simplesmente tem almas irradiando paz. Meus mestres tem brilho no olhar e na alma. E claro, um nariz vermelho. E pronto. Se eu achei que tava difícil ficar pronta, fiquei ali. E fomos. Só sendo....

E quando eu vi. Tinha acabado. Assim, leve, natural e sem pressa. Foi incrível! Não pareceu grande, porque foi imenso! E a gente se dá conta quando tira o nariz e sente a alma lavada. Não eram mais crianças com doenças neurológicas, eram crianças só. Brincavam, dançavam, falavam, cantavam. Reagiam e trocavam. Ensinavam só porque sorriem.
Sorriam com os olhos, com as maos, com as pernas, com os dentes, com a boca inteira. E permitiam que nós, pobres palhaços, entrássemos um pouco no seu mundo. Pobres palhaços que acham que fazem sorrir quando na verdade, brincam. E por brincar, ganham. E por ganhar, sorriem. A gente não doa, a gente troca. E nessa mistura, o que ficou comigo foi muito mais do que eu merecia ou do que eu poderia dar. Eu fui e descobri que quando a gente é, a gente se encontra e se completa. As crianças são sempre. Sem máscaras, sem pesos, sem expectativas. Elas brincam. Foi só brincar com elas para que eu saísse de lá tendo encontrado o que muitos passam a vida procurando.
Foi imenso! E na hora, muito simples. Era "só" um nariz. "Só" uma gaita. "Só" um pano. "Só" uma menina tonta. E ela saiu de lá repleta.

Sabe, queria que todo mundo pudesse sentir isso. Não me parece possível querer algo ruim, fazer algo ruim, dizer algo ruim quando estamos assim. Gratos. Repletos. Leves. Talvez passe logo porque a rotina tem essa capacidade. Mas Deus foi tão genial que criou o amanhã: é um presente pra que a gente busque sempre o que ganhou de bom hoje.

Gratidão. À minha prima que me inspirou e ao Gema que tornou real, especialmente aos mestres, que sempre disseram ser possível.



Um comentário:

  1. Sentimento bom demais...
    muitos deveriam sim conhecer esse sentimento..
    muitas buscas em tantos lugares para achar uma razão quando a razão está proximo e perto, basta se dedicar e fazer!
    Texto lindo e emocionante, como sempre!
    Beijos, Ju sedex ;o)

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