segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Cores do cerrado

 Fomos 3. Eu, Mi e Fe. Ja nem me lembro mais há quantos anos a gente idealiza uma viagem, um mochilao, uma fuga.

Eu acredito no tempo certo das coisas. Na fluidez de energia. Nos planos de Deus. E te falar, continuo me surpreendendo, mesmo acreditando. Por que a gente torce pra ser bom, mas tem coisa que supera completamente nossas expectativas. Daqueles momentos que a realidade fica melhor do que qualquer sonho. E a vida mostra seu sentido. Sua intensidade. Sua vibração mais genuína.
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Dia 4 de outubro saimos de chapeu de palha, botas de trilha, biquínis e maios e uma mala de mao pra 7 dias. Ninguém tinha colocado os pés no Norte do País, nao conhecíamos ninguem no Estado mais caçula da Federação. Mas fomos de coração aberto, sorriso largo e vontade de viver. Quando eu olhava pro lado, cruzava com duas almas que brilhavam. Simples e lindas. Parceiras e reflexivas. Amadoras na blogueiragem e profissionais na capacidade de cativar.
E cativamos. E nos deixamos cativar.
Sábio Pequeno Príncipe que ja dizia: "cativar significa criar lacos"
Bom, difícil dizer quais os laços mais fortes.
Se foram entre nós mesmos e a parte de nós que se esconde na loucura da rotina e emerge com mais vontade que a agua de um Fervedouro quando nos dispomos a sermos essencia. Dizem que ninguém volta igual de uma viagem. E aquelas terras tocantinenses sabem disso.
Nao sei se os lacos mais fortes foram entre nós 3, eu mireeeelle e fefe que nos vimos em situações inéditas e só confirmamos que nossa sintonia aumenta com o tempo e com o mato.
Se foi com ele, o mato. Ou ela, a natureza. Que é e sempre será nossa casa. Mas com frequência esquecemos disso e a maltratamos. O Jalapao é um paraíso esquecido. Paraíso porque é lindo. Lindo me parece uma palavra pequena demais pro que é aquele lugar. Mas acho que ele nao cabe em nenhuma palavra. Seu cerrado colore o ceu, o chao e as aguas. E quantas aguas! Seja rio, cachoeira ou fervedouro. Todas cristalinas e coloridas. Refletem seus arredores. Azul. Verde. Branco. Laranja. O proprio arco íris pintado por um Verdadeiro Artista.
Paraiso porque é lindo. E esquecido porque nao é muito visto por nossos governantes. Cuidado apenas pelos quilombolas. Achei estranho no início pra depois concluir que talvez seja melhor assim. Continuar esquecido por quem degrada e lembrado por quem respeita e entende que a propria natureza se cuida. É só a gente nao interferir que ela faz seu trabalho. E que trabalho!
Não sei qual laço foi mais forte.
Se foram entre as pessoas.
Entre nós e o Rui. Que de moleque estereótipo heterotopzera virou nosso tocantinense com sotaque paulistano (meeeeu) contador de piada sem graça, cantor ruim mas ecletico no estilo musical e forrozeiro que faz sarrada no volante e virou amigo inesquecível.
Entre nós e Mineirim, com seu jeito peculiar de contar historia e zuar da nossa cara quaaase fazendo nos nao perceber que por tras de tanta brincadeira, ele tava preocupado e cuidando de todo mundo.
Entre nós e os tocantinenses. Povo gente bonissima. Com um sotaque nem nordestino nem goiano nem caipira mas tudo isso junto. Cantado com jeito nortista. Vini com a melhor historia de como conheceu o Rio de Janeiro fez com que trocassemos o fervedouro pela melhor prosa embaixo da arvore e cheia de simplicidade e expressões peculiares. Aprendemos o que é moco. Incendiozinho. Chuveiro quadraaado. Mulher com coxa pé de manga. Que o buriti se arrocha. E o cheiro se manda pra quem vc cativa.
Thiaguinho passou rapido, mas o suficiente pra encantar com sua simplicidade elegante e olhar puro.
Nao sei se foi Jane, se foi o dono do Buriti, o Branquinho melhor cozinheiro de bolo de maracuja, a cozinheira de ponte Alta ou de Mateiros. Nao sei se foi o vendedor de sorvete de Buriti, Cagaita ou Bruto(os quais ainda sigo com dificuldade de identificar ehehheheheh).
Nao sei se foi os Vida ou o instagrammer anestesista amigo do Alok. Que começaram tímidos mas logo se renderam as "3 patetas". Se fecha ô paraqueda!
Se o laço foi comigo, com elas, com o lugar ou as pessoas.
Ou se foi simplesmente com o vento na cara ouvindo musica alta numa 4x4 na estrada com a terra que me cobriu por inteira. E nos fez gargalhar e ainda fara por muitos momentos em que estaremos em nossas rotinas sem uma a outra pra compartilhar. Vai virar aquela risada aleatória do "ta rindo do que?" "Nada nao lembrei de uma coisa".
Nao sei mesmo.
Se foi a Mi dancando que nem uma colher, a Fernanda fingindo que nao tinha medo do grilo mutante no meu cabelo, o Rui guiando numa travessia no Rio tipo globo reporter ou falando e ai? Leeticia? ou toda a comida caseira bem temperada que comemos.
O que eu sei é que o coracao ta apertado.
Talvez de saudade. Talvez de tristeza. Talvez de nostalgia. Mas certamente grato.
Foram 7 dias em Tocantins.
5 no Jalapao.
1 na Ilha da da Canela.
E outro a mais de 150 metros de altura a 60km/h numa tirolesa.
Que viagem! Que memória!
So tenho a agradecer.
Obrigada meu Deus, por tamanha generosidade.
Pela viagem. Pelas pessoas. Pelos lugares e pelas companhias.
Obrigada por me juntar com outras 2 meninas- mulheres que sabem que a vida boa mesmo é de pé no chao, vento na cara e cabelo molhado de rio.
Obrigada Cerrado, pelos amanheceres e entardeceres alarajandos mais bonitos que ja vi.
"Eu gosto do Por do sol. Vamos ver um?".
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Seguimos "cariocas", mas agora com amigos nortista, memórias tocantinenses, um pouco mais morenas e com o coração mais cheio.
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Obrigada, meu Deus, por me lembrar que pra ser feliz é disso que a gente precisa : pessoas que saibam o que importa na vida e nossa casa-mato de cenário. O resto, é história que vira memoria. Refúgio nosso de cada dia.
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